Quando eu era criança, era muito, muito magrinha. Depois de
muitas consultas em tudo que é tipo de médico, em viagens aos especialistas das
maiores cidades do Rio Grande do Sul, chegou-se a um incrível diagnóstico de
que isso era normal. Eu só era magrinha e isso não era uma doença. Ponto.
Mesmo assim, passei a infância tomando estimuladores de
apetite e poções com leite condensado e ovo de codorna, o que pode explicar um
pouco a minha loucura por leite condensado, se é que gostar de leite condensado
precisa de alguma explicação, não é?
Bem, tudo nisso é só para chegar nessa pequena história: eu
tinha cerca de três anos e ameaçava chover. Minha mãe correu para fora, para
retirar as roupas da cerca, estava naquelas cercas de arame farpado, bem
antigas. Eu corri junto, para ajudar. Lembro que ventava muito, ainda mais que
a cerca era ao lado do corredor por onde passava o nosso carro. Me aproximei do
local, a ventania aumentou e, de repente, o vento me levou para o chão.
O episódio rendeu muita risada e durante anos, para
descrever a magreza infantil, diziam que eu era tão magra que fui levada pelo
vento.
Corta para dois de novembro de dois mil e doze. Faz sol. Sem
vento nenhum. Mas mesmo sendo um dia lindo, hoje é Finados e é inevitável
pensar na morte, até mesmo falar sobre isso, lembrar das pessoas queridas que já foram,
visitar os cemitérios.
Depois da nossa ronda em volta dos túmulos, não penso em
lápides concretas e pesadas. Penso em cinzas. Dessas muitas cinzas que caem bem
devagar, degustando ao máximo a lei da gravidade.
Ser levada pelo vento foi leve, uma boa sensação.
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