sábado, 30 de outubro de 2010

Sem destino, ou melhor, a gente escolhe o destino

Depois de uma manhã com banho gelado no Gran Hotel Uspallata, de um café da manhã muito ruim e pelo menos aproveitado para mandar alguns e-mails para as pessoas queridas, pegamos a estrada.
A idéia era chegar ao Brasil ainda nesse dia, mas as placas indicando a Vinícola Família Zuccardi nos pararam. A Família Zuccardi nada mais é do que a produtora dos Vinhos Santa Julia que tomamos na noite anterior e em Mendoza, na primeira noite. O Du me perguntou: quer ir lá? Nem pisquei. Claro que sim. Ele comentou que meia hora não faria diferença nos nossos planos e rumamos para a fábrica do Santa Julia.



Para nossa sorte, não precisava reservar. O lugar era encantador e a próxima tour começava em 20 minutos. Tudo parecia tão perfeito. Enquanto aguardávamos, conhecemos a loja.

Tinha desde perfumes de Malbec e Torrontes (essa uva acabamos provando na degustação e lembrou aquele gostinho amarguinho do final do CHardonnay) até degustação de incríveis azeites de oliva.



Achei os pôsteres incríveis. Dá para diferenciar a uva de cada cepa. Dá uma olhadinha:

















A visita estava só começando. Mas eu já havia caído de amores pela Família Zuccardi. Que ótima indicação das placas da rodovia.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sensação de ficar

Demoramos mais que o esperado em Isla Negra, a casa mais encantadora de Pablo Neruda no Chile. A travessia da Cordilheira não deveria ser feita à noite, mas o atraso e a demora nas filas para sair do país nos deixaram passar los caracoles nas sombras.
Praticamente caímos dentro do primeiro hotel depois da travessia dos Andes.



Por fora, até que era bacana. Mas, cá entre nós, mesmo se não tivesse uma fachada mais ou menos, estava valendo. O Gran Hotel Uspallata ficava num lugar lindo, mas nem água quente tinha no quarto.



O que salvou o jantar foi o delicioso Santa Julia Malbec. Aquele mesmo que tomamos em Mendoza, no início da viagem. Agora, tínhamos um pouquinho de parâmetro e concordamos que os vinhos chilenos provados tinham mais corpo e aroma que o malbec argentino Santa Julia.
Mas, o Santa Julia fez a nossa viagem demorar um pouquinho mais. Mais ou menos como gosto de vinho bom, que fica na boca. No próximo post, eu conto.

domingo, 3 de outubro de 2010

Sem Neruda nananinaninha

Só posso pensar numa expressão bem gaúcha para expressar o sentimento de deixar a terra do maior poeta chileno sem conhecer a sua casa mais linda: mas, é bem capaz! No nosso último dia no Chile, corremos para Isla Negra, conhecermos a casa mais incrível de Pablo Neruda.
Na chegada, uma das mais marcantes poesias, o seu autorretrato:



Por mi parte, soy o creo ser duro de nariz,
mínimo de ojos, escaso de pelos
en la cabeza, creciente de abdómen,
largo de piernas, ancho de suelas,
amarillo de tez, generoso de amores,
imposible de cálculos,
confuso de palabras,
tierno de manos, lento de andar,
inoxidable de corazón,
aficionado a las estrellas, mareas,
maremotos, administrador de
escarabajos, caminante de arenas,
torpe de instituciones, chileno a perpetuidad,
amigo de mis amigos, mudo de enemigos,
entrometido entre pájaros,
mal educado en casa,
tímido en los salones, arrepentido
sin objeto, horrendo administrador,
navegante de boca
y yerbatero de la tinta,
discreto entre los animales,
afortunado de nubarrones,
investigador en mercados, oscuro
en las bibliotecas,
melancólico en las cordilleras,
incansable en los bosques,
lentísimo de contestaciones,
ocurrente años después,
vulgar durante todo el año,
resplandeciente con mi
cuaderno, monumental de apetito,
tigre para dormir, sosegado
en la alegría, inspector del
cielo nocturno,
trabajador invisible,
desordenado, persistente, valiente
por necesidad, cobarde sin
pecado, soñoliento de vocación,
amable de mujeres,
activo por padecimiento,
poeta por maldición
y tonto de capirote.

É prudente reservar lugar, porque tem muita procura e as visitas são guiadas. Pode-se fazer isso no site: http://www.fundacionneruda.org/



O escritor Chileno não possui somente uma obra poética magnífica, também teve uma vida muito rica e interessante. Foi diplomata em vários pontos, conheceu pessoas influentes e apaixonou-se pela cultura de muitos lugares.



Os objetos das suas andanças estão na Isla Negra: são mais de 3.500 objetos e máscaras indígenas, garrafas de várias cores – ele acreditava que davam outra energia aos líquidos-, garrafas com navios dentro, fotografias, animais, instrumentos de navegação, mapas mundi, conchas, peixes.




Lá tem também uma típica garrafa de areia do nordeste brasileiro, dada por seu amigo Jorge Amado.



Logo que comprou a casa, que era apenas um cômodo, colocou uma âncora lá, sinalizando a grande vontade de permanecer nesse lugar. Cada pequena peça tinha um grande significado para Neruda. Era apaixonado pela vida e pelo mar. Mas tinha um barquinho no seco, para tomar seu vinho ali, olhando o mar de longe, porque, ele dizia, que era mais seguro.



Neruda também era encantado com as carrancas de navios. Ele levava todas para a sua sala. Uma delas, especialmente, lhe chamava a atenção: como tinha sido esculpida com madeira verde, costumava suar quando ele acendia acendia a lareira e o calor a alcançava. Ele costumava dizer, enquanto sorvia o vinho frente à lareira, que ele estava no lugar certo, mas que a caranca estava chorando de saudades do seu lugar, o mar.
Como não se pode fotografar a parte interna da casa, achei a imagem e colei aqui:



Fonte: site vitruvius

No quarto, uma das paredes é feita de vidro, com vista para o mar. A mesma vista em que ele foi enterrado lá, junto com o maior amor da sua vida, a sua Matilde, La Chascona (“a escabelada”, como carinhosamente a chamava, pelos seus cabelos desgrenhados).



Depois da visita, fomos ao restaurante do lado, comer o seu prato favorito, o caldo de Côngrio, que ele eternizou em um poema. Se tornar imortal é se deixar conhecer.



Com esse gostinho na boca, partimos em direção à Cordilheira dos Andes, atrasados para fazer todo o trajeto com a luz do dia, mas com os olhos marejados, como a carranca que chora.

Casa Isla Negra
http://www.fundacionneruda.org/

Horario de atención

De martes a domingo de 10 a 18 horas.

Tour en español: $3.000 por persona.

Tour en inglés: $3.500 por persona.

Estudiantes y tercera edad con credencial: $1.500 por persona (sólo chilenos, de martes a viernes en día hábil).