domingo, 27 de junho de 2010

Sonhando com a Carmenére



A placa diz “Zona lenta”e realmente estamos parados, querendo ingressar no Chile. No meio das montanhas, cercados de motoqueiros e preenchendo formulários. Ficamos uma hora ali. Depois de toda a sabatina das aduanas, nos emocionamos com los caracoles, as famosas curvas da Cordilheira dos Andes. Não existe ângulo que mostre com realidade o que é esse trecho. As fotos mentem, posso garantir. As paisagens são de perder o fôlego. Não se entende como os ônibus e caminhões conseguem fazer aquelas curvas. Vimos cumes com neve ainda. Vimos motoqueiros passando mal nos acostamentos. Vimos a água correndo do topo das montanhas, branquinha e rápida. Deve estar geladinha. Ah, fiquei o caminho todo com vontade de beber daquela água da neve.



Julia, nosso novo GPS, não tem o mapa do Chile. Estamos perdidos de novo. Imagina a confusão ao passar pelas rótulas de Santiago. Voltas e mais voltas. Perdemos horas ali. Decidimos ir direto a San Fernando, pelo mapa seria a maior cidade perto das Viñas do Vale do Colchágua. San Fernando é pequena, sem nenhum hotel. A tarde caía. Corremos a Santa Cruz, tentar a sorte lá. O maior hotel também nos assustou: caríssimo. Acabamos ficando numa gracinha de hotel, que recomendamos com força, chamado Vendimia. Nosso quarto é o Carmenére e é muito fofo. Os compadres ficaram no Merlot. Todo mundo feliz, guardando as bagagens e já de olho em algum restaurante que atendesse às 23h durante a semana. O hotel nos conseguiu um lugar , chamado Club Social. Que bom, não iríamos ficar só na bolachinha, hehehe. Comemos bem a comida que o Club Social tinha para aquele horário, que era um filé com saladinha bem gostosinho. Mais importante: tomamos nosso primeiro vinho em solo chileno, um Carmenére Casa Silva 2009.




A cepa do vinho e nome do quarto é uma referência à uva símbolo do Chile. Julgou-se que a Carmenére havia terminado, pois fora devastada por pragas na França. Só sobreviveu porque exemplares dela haviam sido levados para o Chile, misturados com outras cepas, onde a praga não chegou, já que o lugar é protegido pela Cordilheira de um lado e pelo mar do outro. Ela foi descoberta por acaso, no meio das uvas Merlot. Notou-se que haviam algumas uvas que amadureciam em épocas diferentes e elas foram separadas para designar seu DNA. Graças ao Chile, temos Carmenére, a uva que fornece um dos vinhos tintos mais aromáticos que se conhece. Um vinho com corpo e com gosto de cerejas pretas.
Acabamos o jantar com um gostinho diferente: o de tomar o vinho do Chile no Chile. Ou melhor: o gostinho de realizar um sonho!

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